26 de dez. de 2009

Conceito de "raças" foi criado para justificar dominação, diz autor ...

Conceito de "raças" foi criado para justificar dominação, diz autor

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u453011.shtml acessado em 25/12/2009

As "raças" e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. O conceito de que existem diferentes "raças humanas" foi criado pelo próprio homem e ganhou força com base em interesses de determinados grupos, que necessitavam de justificativas para a dominação sobre outros grupos.

Divulgação

Livro explica o conceito de "raças" e propõe a sua "desinvenção"

A afirmação é do geneticista Sérgio Pena, autor do livro "Humanidade Sem Raças?" (Publifolha, 2008), da Série 21. O título tem formato de ensaio e aborda o conceito de "raças" e o racismo de forma sintética. Saiba mais sobre o livro

O autor examina a questão sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. E propõe, já no trecho de abertura do livro, que pode ser lido abaixo, a necessidade da "desinvenção" imediata do conceito de "raças".

"Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros", afirma o autor. "Assim, a sobrevivência da ideia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor."

Leia abaixo o trecho de introdução de "Humanidade Sem Raças?". O texto mantém a ortografia original do livro, publicado em 2008.

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A Bíblia nos apresenta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Morte, Guerra, Fome e Peste. Com os conflitos na Irlanda do Norte, em Ruanda e nos Bálcãs, no fim do século passado, e após o 11 de Setembro, a invasão do Afeganistão e do Iraque e os conflitos de Darfur no início do século 21, temos de adicionar quatro novos cavaleiros: Racismo, Xenofobia, Ódio Étnico e Intolerância Religiosa.

Neste livro vamos examinar um desses: o racismo, com o seu principal comparsa, a crença na existência de "raças humanas". Proponho demonstrar que as raças humanas são apenas produto da nossa imaginação cultural. Como disse o epidemiologista americano Jay S. Kaufman, as raças não existem em nossa mente porque são reais, mas são reais porque existem em nossa mente.1

Acredito que a palavra devia ser sempre escrita entre aspas. Como isso comprometeria demais a apresentação do texto, serão omitidas aqui, mas gostaria de sugerir que o leitor as mantivesse, imaginariamente, a cada ocorrência do termo. No passado, a crença de que as raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades. Ao longo dos tempos, esse infeliz conceito integrou-se à trama da nossa sociedade, sem que sua adequação ou veracidade tenham sido suficientemente questionadas.

Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros. Assim, a sobrevivência da idéia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor. Essa persistência é tóxica, contaminando e enfraquecendo a sociedade como um todo.

Henry Louis Gates Jr. (1950), professor da Universidade de Harvard e diretor do Instituto w.e.b. Du Bois de Pesquisa Sobre Africanos e Afro-Americanos, é um brilhante intelectual norte-americano da atualidade. Em um artigo intitulado "A Ciência do Racismo", recentemente publicado online na revista The Root, Gates faz a seguinte afirmativa: "[...] a última grande batalha sobre o racismo não será lutada com relação ao acesso a um balcão de restaurante, a um quarto de hotel, ao direito de votar, ou mesmo ao direito de ocupar a Casa Branca; ela será lutada no laboratório, em um tubo de ensaio, sob um microscópio, no nosso genoma, no campo de guerra do nosso DNA. É aqui que nós, como uma sociedade, ordenaremos e interpretaremos a nossa diversidade genética".2

Vou seguir a sugestão de Gates e examinar toda a questão das raças humanas e do racismo sob o prisma da biologia e da genética moderna, com uma perspectiva histórica. Assim, contrasto três modelos estruturais da diversidade humana. O primeiro, com base na divisão da humanidade em raças bem definidas, foi desenvolvido nos séculos 17 e 18 e culminou no racismo científico da segunda metade do século 19 e no movimento nazista do século 20. Esse equivocado modelo tipológico definiu as raças como muito diferentes entre si e internamente homogêneas. E foi essa crença de que as diferentes raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem demarcadas que contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades.

O segundo foi o modelo populacional. Incorporando novos conhecimentos científicos, ele surgiu após o final da Segunda Guerra Mundial, e fez a divisão da humanidade em populações, que passaram a ser corretamente percebidas como internamente heterogêneas e geneticamente sobrepostas. Infelizmente ele se degenerou em um modelo "populacional de raças" e tem sido compatível com a continuação do preconceito e da exploração.

O que proponho para o século 21 é a substituição desses dois modelos prévios por um novo paradigma genômico/individual de estrutura da diversidade humana, que vê essa espécie dividida não em raças ou populações, mas em seis bilhões de indivíduos genomicamente diferentes entre si, mas com graus maiores ou menores de parentesco em suas variadas linhagens genealógicas.

Este terceiro e novo modelo genômico/individual valoriza cada ser humano como único, em vez de enfatizar seu pertencimento a uma população específica, e está solidamente alicerçado nos avanços da genômica, especialmente na demonstração genética e molecular da individualidade genética humana e na comprovação da origem única e recente da humanidade moderna na África. Ele é fundamentalmente genealógico e baseado na história evolucionária humana - enfatiza a individualidade e a singularidade das pessoas e o fato de que a humanidade é uma grande família. Nele, a noção de raça humana perde totalmente o sentido e se desfaz como fumaça.

A mensagem principal deste livro é que se deve fazer todo esforço em prol de uma sociedade desracializada, que valorize e cultive a singularidade do indivíduo e na qual cada um tenha a liberdade de assumir, por escolha pessoal, uma pluralidade de identidades, em vez de um rótulo único, imposto pela coletividade. Esse sonho está em perfeita sintonia com o fato demonstrado pela genética moderna: cada um de nós tem uma individualidade genômica absoluta, que interage com o ambiente para moldar uma exclusiva trajetória de vida.

A Invenção das Raças

Parece existir uma noção generalizada de que o conceito de raças humanas e sua indesejável conseqüência, o racismo, são tão velhos como a humanidade. Há mesmo quem pense neles como parte essencial da "natureza humana". Isso não é verdade. Pelo contrário, as raças e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade.

Desde os primórdios da humanidade houve violência entre grupos humanos, mas só na era moderna essa violência passou a ser justificada por uma ideologia racista. De fato, nas civilizações antigas não são encontradas evidências inequívocas da existência de racismo (que não deve ser confundido com rivalidade entre comunidades). É certo que havia escravidão na Grécia, em Roma, no mundo árabe e em outras regiões. Mas os escravos eram geralmente prisioneiros de guerra e não havia a idéia de que fossem "naturalmente" inferiores aos seus senhores. A escravidão era mais conjuntural que estrutural - se o resultado da guerra tivesse sido outro, os papéis de senhor e escravo estariam invertidos.

A emergência do racismo e a cristalização do conceito de raças coincidiram historicamente com dois fenômenos da era moderna: o início do tráfico de escravos da África para as Américas e o esvanecimento do tradicional espírito religioso em favor de interpretações científicas da natureza.

Diversidade Humana

Antes de prosseguirmos, proponho ao leitor um simples experimento. Dirija-se a um local onde haja grande número de pessoas - uma sala de aula, um restaurante, o saguão de um edifício comercial ou mesmo a calçada de uma rua movimentada. Agora observe cuidadosamente as pessoas ao redor.

Deverá logo saltar aos olhos que somos todos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Podemos ver grandes similaridades no plano corporal, na postura ereta, na pele fina e na falta relativa de pêlos, características da espécie humana que nos distinguem dos outros primatas.

Por outro lado, serão evidentes as extraordinárias variações morfológicas entre as diferentes pessoas: sexo, idade, altura, peso, massa muscular e distribuição de gordura corporal, comprimento, cor e textura dos cabelos (ou ausência deles), cor e formato dos olhos, formatos do nariz e lábios, cor da pele etc.

Essas variações são quantitativas, contínuas, graduais. A priori, não existe absolutamente qualquer razão para valorizar uma ou outra dessas características no exercício de perscrutação. Mas logo se descobre que nem todos os traços têm a mesma relevância. Alguns são mais importantes; por exemplo, quando reparamos que algumas pessoas são mais atraentes que outras.

Além disso, há características que podem nos fornecer informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar a inferir que a pessoa tenha ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental etc. Mas isso é tudo: não há nada mais que se possa captar à flor da pele.

Pense bem. Como é possível que o fato de possuir ancestrais na África faça o todo de uma pessoa ser diferente de quem tem ancestrais na Ásia ou Europa? O que têm a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Tratar um indivíduo com base na cor da sua pele ou na sua aparência física é claramente errado, pois alicerça toda a relação em algo que é moralmente irrelevante com respeito ao caráter ou ações daquela pessoa.

1 Kaufman, J. S., "How Inconsistencies in Racial Classification Demystify The Race Construct in Public Health Statistics". Em: Epidemiology, 10:108-11, 1999.
2 Gates, H. L., "The Science of Racism". Em: The Root (www.theroot.com/id/46680/output/print), 2008.

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"Humanidade Sem Raças?"
Autor: Sergio D. J. Pena
Editora: Publifolha
Páginas: 72
Quanto: R$ 12,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou no site da Livraria da Folha.

26 de nov. de 2009

PROGRAMAÇÃO II Encontro Transdisciplinar História e Comunicação SÉRIES URBANAS: CONFLITO E MEMÓRIA

II Encontro transdisciplinar História e Comunicação
SÉRIES URBANAS: CONFLITO E MEMÓRIA


Dias 3 e 4 de dezembro de 2009.
Local: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Promovido por:
Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem – PUC-SP
Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC) – PUC-SP

Aberto ao público, com emissão de certificados de participação como ouvinte e de apresentação de trabalho. Para ouvinte, não precisa inscrição prévia.

Programação:

Dia 3/12, quinta-feira – Abertura - Das 14h às 15h30min

Exposições
 O CORPO E A CIDADE – Professora Doutora Helena Katz (PUC-SP).
(das 14h às 14h30min)
 CIDADE, MEMÓRIA E LITERATURA – Professora Doutora Yvone Dias Avelino (PUC-SP).
(das 14h30min às 15h)
 Debate
(das 15h às 15h30min)
Mediador: Professor Doutor Amalio Pinheiro (PUC-SP).
Local: auditório superior do TUCA.

15h30min - Lançamento do livro “O MEIO É A MESTIÇAGEM”, de Amálio Pinheiro (org).

Dia 4/12, sexta-feira – Apresentação de trabalhos – Das 9h às 17h

- Grupo temático 1: COMUNICAÇÃO, CULTURA URBANA E MESTIÇAGEM.
Das 9h às 12h - Sala 522.
- Grupo temático 2: ARTE, MÍDIA E BARROCO.
Das 14h às 17h - Sala 522.
- Grupo temático 3: CIDADE, HISTÓRIA E GRUPOS SOCIAIS.
Das 9h às 12h - Sala 508.
- Grupo temático 4: IMAGEM, MEMÓRIA E TRADUÇÃO.
Das 14h às 17h - Sala 508.

Grupo temático 1: COMUNICAÇÃO, CULTURA URBANA E MESTIÇAGEM
Coordenação: Jurema Mascarenhas Paes.
Horário: das 9h às 13h.
Sala: 522 (Prédio Bandeira de Melo – 5º andar).
Tempo de cada exposição: 10 minutos.

Participantes:
1. São Paulo Flash Gordon.
Autor: Dirceu Martins Alves - Membro do Grupo de Pesquisa Cultura e Comunicação: Barroco e Mestiçagem (CNPq). Doutorando pelo COS-PUC/SP
2. A cidade modernizada: questões acerca do viver urbano, dos conflitos e das memórias.
Autor: Nataniél Dal Moro – Mestrando em História Social na PUC-SP.
3. A informalidade: sistema persistente de criação de territórios na cidade de São Paulo.
Autora: Mila Goudet - Membro do Grupo de Pesquisa Cultura e Comunicação: Barroco e Mestiçagem (CNPq). Doutoranda pelo COS-PUC/SP
4. "Stickers: Inserção e visibilidade no espaço urbano"
Autor: Diogo Andrade Bornhausen - Mestrando em Comunicação e Semiótica
5. Britain Need’s you now! Quando o Estado precisa de seus cidadãos.
Autor: Paulo Cristelli.
6. “Um motivo para fugir, mil motivos para encarar”: a Juventude Libertária e a re-significação do punk – São Paulo 1990-2000.
Autor: Marcelo Fonseca - Mestrando em História Social na PUC-SP.
7. Encontros e desencontros do performático na cena urbana. Um cotejo entre o teatro que experimenta e o performer que pede.
Autora: Marcela Belchior Belchior – Mestranda em Comunicação e Semiótica (PEPGCOS-PUCSP)

> Debate: 15 minutos.

Grupo temático 2: ARTE, MÍDIA E BARROCO
Coordenação: Marcela Belchior.
Horário: das 14h às 18h.
Sala: 522 (Prédio Bandeira de Melo – 5º andar).
Tempo de cada exposição: 10 minutos.

1. Arte Digital nos espaços urbanos latino-americanos: a arquitetura da reconstrução.
Autora: Raquel Rennó.
2. O jogo comunicacional assimétrico do barroco: o mestiço como ponto de fuga.
Autora: Neide Marinho – Doutoranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP.
3. O limite e o excesso neo-barroco no grafite.
Autora: Lourdes Gabrielli – Doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, professora da PUC-SP e Mackenzie no curso de Propaganda e Marketing.
4. Teatro do Oprimido: versões artísticas de memórias e conflitos.
Autor: Anderson Zotesso – Mestrando em Comunicação e Semiótica (PUC-SP).
5. Urbanidade e Fotogenia: o homem imaginário e o sujeito na tela.
Autora: Patrícia Dourado - Mestrado em Comunicação e Semiótica, PUC-SP.
6. A Comunicação na América Latina e o ideal de progresso e modernidade.
Autora: Maria Lúcia Jacobini – Jornalista, economista, mestre em Comunicação e Semiótica e Doutoranda pelo mesmo programa.
7. Raul Seixas, um produtor barroco.
Autora: Cibele Jorge – Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Educação, Artes e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
8. Luiz Gonzaga: música e mestiçagem.
Autora: Jurema Mascarenhas Paes - Doutora em história PUC-SP, cantora, compositora. Grupos de Pesquisa em que atua: Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem. - PUC/SP e Núcleo de Estudos de História Social da Cidade – NEHSC.
9. Tuyabaé Cuaá - A sabedoria dos antigos pajés.
Autora: Marlise Borges de Lima - Doutoranda Comunicação e Semiótica PUC/SP, orientanda professora Jerusa Pires Ferreira.
10. O ritual barroco no cerimonial das organizações.
Autora: Silvia Liberatore.

> Debate: 15 minutos.

APRESENTAÇÃO DA PEÇA “JUÍZO”
Horário: 17h.
Local: sala 522 (prédio Bandeira de Melo, 5º andar).

Sinopse: A peça trata das relações de opressão internas e externas entre uma família decadente de classe média (branca) e uma família pobre (negra). A montagem apresenta situações opressivas em cadeia, imbricando os personagens numa teia de tensões cada vez mais intensa e complexa. São discutidos temas como discriminação social/racial e sexualidade na adolescência, sem perder de vista o macro-universo onde estão inseridas. Entre as experimentações estéticas estão o Sistema Curinga aplicado ao Curinga no Teatro Fórum, propiciando a figura do curinga-ator.

Ficha Técnica
Direção: Islaine Garcia / Texto: Anderson Zotesso / Preparação de Ator: Emerson Grotti / Sonoplatia e Iluminação: Islaine Garcia

Elenco: Alex Sandro Duarte, Anderson Zotesso, Cecília Zanquini, Emerson Grotti, Jéssica Ferreira, Kelly Ferreira, Lincoln Generoso, Lucia Pádua, Luis Fernando Navarro.

Duração: 50 minutos.

Grupo temático 3: CIDADE, HISTÓRIA E GRUPOS SOCIAIS
Coordenação: a definir.
Horário: das 9h às 13h.
Sala: 508 (prédio Bandeira de Melo, 5º andar).
Tempo de cada exposição: 10 minutos.

1. Concentração judaica no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
Autora: Lucia Chermont – Mestranda em História Social na PUC-SP.
2. Liberdade: um disputa étnica.
Autor: Rafael de Almeida Serra Dias - Mestrando em História Social na PUC-SP, bolsista do CNPq.
3. Imigração subvenionada: política imigratória em São Paulo (1886-1896).
Autora: Kátia Cristina Petri - Mestranda do programa de pós-graduação em História Social da PUC/SP, bolsista CNPQ e membro do NEHSC e NEC.
4. Tereza: a mulher nos espaços baianos.
Autora: Luciana Santos Barbosa.
5. Sertanejas e suas memórias: na trilha da experiência.
Autora: Maria da Conceição Silva Rodrigues - Programa de Pós-Graduação em História Social da PUC-SP.

> Debate: 15 minutos.
> Intervalo: 15 minutos.

6. Memória e esquecimento: as causas e conseqüências do artigo “O Beato José Lourenço e sua ação no Cariri”, de José Alves de Figueiredo.
Autora: Maria Isabel Medeiros Almeida - Jornalista. Mestranda em História Social na PUC-SP.
7. Preservação ou mestiçagem no encontro da TV com o índio.
Autor: Orlando Garcia – Professor de História e Sociologia.
8. O esporte criminalizado: tensões e conflitos na cidade de São Paulo.
Autor: Leonardo Brandão - Doutorando em História pela PUC/SP
9. De “vira-latas” ao “não há quem possa!”: seleção brasileira e identidades (1950-1958).
Autor: Luciano Deppa Banchetti - Aluno do Programa de Estudos Pós-Graduados em História, nível Mestrado, área História Social, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Bolsista do CNPq.
10. O viver na cidade "Ciência e ternura": memórias e identidades de Franco da Rocha (1970- 2008).
Autor: Adilson S. Reis - Mestrando na PUC-SP.
11. A repressão desencadeada pela DOPS e fábrica têxtil Cotonifício Othon Bezerra de Mello e a resistência operária nas décadas de 1940 e 1950 em Recife.
Autora: Arleandra de Lima Ricardo - Mestra em História Social pela PUC-SP (2009), participante dos grupos de pesquisa: Centro de Estudos de História América Latina (CEHAL) e do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade – NEHSC.
12. Palco de conflitos: história e memória no contexto de México do século XVI e do XIX.
Autor: Joao Luiz Fukunaga, mestre em História Social pela PUC-SP
> Debate: 15 minutos.

Grupo temático 4: IMAGEM, MEMÓRIA E TRADUÇÃO
Coordenação: Nataniél Dal Moro.
Horário: das 14h às 18h.
Sala: 508 (prédio Bandeira de Melo, 5º andar).
Tempo de cada exposição: 10 minutos.

1. Pantanal na visão da mídia: da inexistência ao paraíso.
Autora: Rosiney Bigatão - Mestranda do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC/SP, bolsista pela CAPES e integrante do Grupo de Pesquisa Cultura e Comunicação: Barroco e Mestiçagem (CNPq)
2. Irmãos, é preciso coragem para integrar-se à Festa! - A representação da sociedade interiorana em tempos de “Milagre Econômico” na telenovela Irmãos Coragem (1970-1971)
Autor: Mauricio Tintori Piqueira - Mestrando da Pontifícia Universidade Católica. Membro do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade – NEHSC – da PUC/SP.
3. Estereótipos em trânsito da mulher brasileira: uma estratégia midiática ou uma construção metafórica da realidade?
Autora: Lisani Albertini de Souza - Mestranda no programa de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Orientanda da professora Dra. Christine Greiner e bolsista pela CAPES.
4. O Imaginário Metalista Luso-Brasileiro Colonial: A Serra das Esmeraldas (1646-1683).
Autor: Fabio Paiva Reis – Mestrando em História Social (PUC-SP).
5. De um El Dourado à uma Paris nos Trópicos: Belém um caleidoscópio de imagens 1897-1912.
Autor: Fabricio Herberth.
6. Mestiçagens carnavalescas: o processo de hibridização do carnaval português contemporâneo pelas imagens do “espetáculo” dos desfiles de escola de samba brasileiros.
Autor: José Maurício Conrado Moreira da Silva - Doutorando pelo programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP.

> Debate: 15 minutos.
> Intervalo: 15 minutos.

7. A profecia e seus desdobramentos como elementos diferenciadores na tradução de A casa das sete mulheres.
Autora: Izabelle Cristine Carbonar do Prado - Mestranda no programa de Comunicação e Semiótica da Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
8. A trilogia ibérica de Bigas Luna: reelaboração e assimilação de elementos barrocos e mestiços.
Autora: Sílvia C. A. Marques - Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Membro do grupo de pesquisa Cultura e Comunicação: Barroco e Mestiçagem.
9. O tango e a memória coletiva.
Autor: Vagner Rodrigues – Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutorando pelo mesmo programa.
10. O fantástico e o cotidiano nos quadrinhos: traduções e montagens nas histórias de Neil Gaiman.
Autor: Luís Fernando Pereira – Doutorando no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica (PUC-SP).
11. Tempo e escatologia na representação urbana futurística de Blade Runner (1982)
Autor: Luiz Aloysio Mattos Rangel - Mestrando em História Social pela PUC-SP.
12. Signos da vorazcidade: a comunicação do grotesco em Rubem Fonseca.
Autora: Nelma Aronia Santos – UNEB.

11 de nov. de 2009

II Encontro transdisciplinar de História e Comunicação

II Encontro transdisciplinar de História e Comunicação
SÉRIES URBANAS: CONFLITO E MEMÓRIA

Data: 3 e 4 de dezembro de 2009.

Promovido por:
Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem – PUC-SP
Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC) – PUC-SP

Aberto ao público, com emissão de certificados de participação como ouvinte e de apresentação de trabalho.


CHAMADA DE TRABALHOS
O II Encontro Transdisciplinar de História e Comunicação recebe resumos de trabalhos para apresentação até o dia 16 de novembro. Para apresentar, é preciso ser estudante de cursos de pós-graduação em qualquer área. Neste ano, o tema do evento é “Séries urbanas: Conflito e Memória”. Confira mais informações:

- Envio de resumos para apresentação: até 16 de novembro de 2009, para comunicpuc@yahoogrupos.com.br.

- Divulgação de resumos aceitos e divisão de Grupos Temáticos: 23 de novembro de 2009, em http://barroco-mestico.blogspot.com.

- Envio de trabalhos completos: até 4 de dezembro de 2009, para www.pucsp.br/revistacordis
(para publicação na revista científica eletrônica Cordis, do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade – NEHSC).

Normas para envio de trabalho completo

1. A Comissão Editorial do II Encontro Transdisciplinar História e Comunicação aceita trabalhos originais, sob a forma de artigos científicos (de autoria individual ou coletiva) nas áreas de História social da cidade, Barroco, Mestiçagem, Comunicação e Cultura, com discussões que envolvam a temática do evento, Séries urbanas: conflito e memória.

2. Os resumos aprovados para apresentação já indicam o aceite de seus respectivos trabalhos completos para publicação na revista científica eletrônica Cordis, do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade – NEHSC.

3. Os trabalhos devem ser normalizados de acordo com as NBRs 6023 (referenciação bibliográfica) e 10520 (citação no corpo do texto) – de 2002 – da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

5. Os trabalhos devem ser digitados de acordo com a formatação estabelecida pela Revista Cordis, disponível em www.pucsp.br/revistacordis.

23 de ago. de 2009

Comunidades Falsificadas - JESÚS MARTÍN-BARBERO

Caros,

Hoje a Folha de S.Paulo traz uma entrevista com Jesús Martín-Barbero --para quem a área da comunicação deve ser pensada como "nebulosa", uma região sem fronteiras nem centro.

Link (só para assinantes): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2308200914.htm

Aproveito para contrabandeá-la aqui. :)

bjs
Natália

+Sociedade

Comunidades falsificadas
Filósofo espanhol diz que a utopia de democracia direta e igualdade total na internet é mentirosa e ameaça minar as práticas de representação e participação políticas reais

RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO

Com a emergência de gigantescas redes sociais virtuais, como o Facebook, a internet configura a sua utopia máxima: todos somos iguais. E, se somos todos iguais, não precisamos mais de eleições, pois não precisamos ser representados. Todos nos representamos no espaço democrático da internet.
O raciocínio é tentador, mas, para o filósofo espanhol Jesús Martín-Barbero, é mentiroso -e temerário. "Nunca fomos nem seremos iguais", ele diz, e na vida cotidiana continuaremos dependendo de mediações para dar conta da complexidade do mundo, seja a mediação de partidos políticos ou a de associações de cidadãos.
Martín-Barbero vê a internet como um dos fatores de desestabilização do mundo hoje, que não pode ser pensado por disciplinas estanques. Mundo, aliás, tomado pela incerteza e pelo medo, que nos faz sonhar com a relação não mediada das comunidades pré-modernas. O filósofo conversou com a Folha durante visita a São Paulo, na semana passada.




FOLHA - Desde 1987, quando o sr. lançou sua obra de maior repercussão ["Dos Meios às Mediações", ed. UFRJ], até hoje, o que mudou na comunicação e nas ciências sociais?
JESÚS MARTÍN-BARBERO - Estamos em um momento de pensar o conceito de conhecimento como certeza e incerteza. A incerteza intelectual dos modernos se vê hoje atravessada por outra sensação: o medo. A sociedade vive uma espécie de volta ao medo dos pré-modernos, que era o medo da natureza, da insegurança, de uma tormenta, um terremoto. Agora vivemos em uma espécie de mundo que nos atemoriza e desconcerta.
O medo vem, por exemplo, da ecologia: o que vai acontecer com o planeta, o nível do mar vai subir? A natureza voltou a ser um problema hoje, como aos pré-modernos. Depois vem o tema da violência urbana, a insegurança urbana. Por toda cidade que passo, de 20 mil a 20 milhões de habitantes, há esse medo.
Como terceira insegurança, que nos afeta cada vez mais, aparece a vida laboral. Do mundo do trabalho, que foi a grande instituição moderna que deu segurança às pessoas, vamos para um mundo em que o sistema necessita cada vez menos de mão de obra. O mundo do trabalho se desconfigurou como mundo de produção do sentido da vida.

FOLHA - Nesse mundo de incertezas, como se comporta a noção de comunidade? Como ela aparece em redes virtuais como o Facebook?
MARTÍN-BARBERO - Acho que ainda não temos palavras para nomear esse fenômeno. Falamos em rede social, mas o que significa social aí? Apenas uma rede de muita gente. Não necessariamente em sociedade. Há diferenças entre o que foi a comunidade pré-moderna e o que foi o conceito de sociedade moderna.
A comunidade era orgânica, havia muitas ligações entre os seus membros, religiosas, laborais. Renato Ortiz [sociólogo e professor na Universidade Estadual de Campinas] faz uma crítica muito bem feita a um livro famoso de [Benedict] Anderson, que diz que a nação é como uma comunidade imaginada ["Comunidades Imaginadas", ed. Companhia das Letras], principalmente por jornais e a literatura nacional.
É verdade, são fundamentais para a criação da ideia de nação. Mas Renato Ortiz diz que há muito de verdade e muito de mentira nisso. O que acontece é que, quando a sociedade moderna se viu realmente configurada pelo Estado, pela burocracia do Estado, começou a sonhar novamente com a comunidade. Era uma comunidade imaginada no sentido de querer ter algo de comunidade, e não só de sociedade anônima.
Falar de comunidade para falar da nação moderna é complicado, porque se romperam todos os laços da comunidade pré-moderna. Eu diria que há aí um ponto importante, considerando que no conceito de comunidade há sempre a tentação de devolver-nos a uma certa relação não mediada, presencial. Essa é um pouco a utopia da internet.

FOLHA - Qual utopia?
MARTÍN-BARBERO - A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E portanto a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo.

FOLHA - As comunidades virtuais da atualidade têm pouco das comunidades originais, então?
MARTÍN-BARBERO - Quando começamos a falar de comunidades de leitores, de espectadores de novela, estamos falando de algo que é certo. Uma comunidade formada por gente que gosta do mesmo em um mesmo momento. Se a energia elétrica acaba, toda essa gente cai.
É uma comunidade invisível, mas é real, tão real que é sondável, podemos pesquisá-la e ver como é heterogênea. Comunidade não é homogeneidade. Nesse sentido é muito difícil proibir o uso da expressão "comunidade" para o Facebook. Mas o que me ocorre ao usarmos o termo "comunidade" para esses sites é que nunca a sociedade moderna foi tão distinta da comunidade originária.
O sentido do que entendemos por sociedade mudou. Veja os vizinhos, que eram uma forma de sobrevivência da velha comunidade na sociedade moderna. Hoje, nos apartamentos, ninguém sabe nada do outro. Outra chave: o parentesco. A família extensa sumiu. Hoje, uma família é um casal. O que temos chamado de sociedade está mudando. Estamos numa situação em que o velho morreu e o novo não tem figura ainda, que é a ideia de crise de [Antonio] Gramsci.

FOLHA - A proposta de sites como o Facebook não é exatamente de fazer essa reaproximação?
MARTÍN-BARBERO - Creio que há pessoas no Facebook que, pela primeira vez em suas vidas, se sentem em sociedade. É uma questão importante, mas não podemos esquecer da maneira como nos relacionamos com o Facebook.
Um inglês que passa boa parte de sua vida só, em um pub, com sua grande cerveja, desfruta muito desse modo de vida. Nós, latinos, desfrutamos mais estando juntos.
Evidentemente a relação com o Facebook é distinta. O site é real, mas a maneira como nos relacionamos, como o usamos, é muito distinta. O Facebook não nos iguala. Nos põe em contato, mas nada mais.

FOLHA - De que maneira essas questões devem transformar os meios de comunicação?
MARTÍN-BARBERO - Não sei para onde vamos, mas em muito poucos anos a televisão não terá nada a ver com o que temos hoje. A televisão por programação horária é herdeira do rádio, que foi o primeiro meio que começou a nos organizar a vida cotidiana. Na Idade Média, o campanário era que dizia qual era a hora de levantar, de comer, de trabalhar, de dormir. A rádio foi isso.
A rádio nos foi pautando a vida cotidiana. O noticiário, a radionovela, os espaços de publicidade... Essa relação que os meios tiveram com a vida cotidiana, organizada em função do tempo, a manhã, a tarde, a noite, o fim de semana, as férias, isso vai acabar. Teremos uma oferta de conteúdos. A internet vai reconfigurar a TV imitadora da rádio, a rádio imitadora da imprensa escrita... Creio que vamos para uma mudança muito profunda, porque o que entra em crise é o papel de organização da temporalidade.

FOLHA - A ascensão da internet e da oferta de informação por conteúdos suscita outra questão, ligada à formação do cidadão. Não corremos o risco de que um fã de séries de TV, por exemplo, só busque notícias sobre o tema, alienando-se do que acontece em seu país?
MARTÍN-BARBERO - Antigamente, todos líamos, escutávamos e víamos o mesmo. Isso para mim era muito importante. De certa forma, obrigava que os ricos se informassem do que gostavam os pobres -sempre defendi isso como um aspecto de formação de nação.
Quando lançaram os primeiros aparelhos de gravação de vídeo, disseram-me que isso era uma libertação: as pessoas poderiam selecionar conteúdos.
Mas esse debate já não é possível hoje. Passamos para um entorno comunicativo, as mudanças não são pontuais como antes. A questão não é se eu abro ou não abro o correio. Não quero ser catastrofista, mas o tanto que a internet nos permite ver é proporcional ao tanto que sou visto. Em quanto mais páginas entro, mais gente me vê. É outra relação.
Temos acesso a tantas coisas e tantas línguas que já não sabemos o que queremos. Hoje há tanta informação que é muito difícil saber o que é importante. Mas o problema para mim não é o que vão fazer os meios, mas o que fará o sistema educacional para formar pessoas com capacidade de serem interlocutoras desse entorno; não de um jornal, uma rádio, uma TV, mas desse entorno de informação em que tudo está mesclado. Há muitas coisas a repensar radicalmente.




QUEM É JESÚS MARTÍN-BARBERO

DA REDAÇÃO

Nascido na Espanha, mas radicado na Colômbia, Jesús Martín-Barbero é doutor em Filosofia e Letras pela Universidade de Louvain, na Bélgica, e coordenador de pesquisa da Faculdade de Comunicação e Linguagem da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá.
Autor popular entre estudiosos da comunicação no Brasil, estuda o fenômeno sob enfoque cultural. Propôs em sua visita a São Paulo na última segunda que a área seja pensada como "nebulosa" -uma região sem fronteiras nem centro.
Ele esteve na cidade para aula magna de lançamento do Fórum Permanente de Programas de Pós-Graduação em Comunicação do Estado de São Paulo.

21 de ago. de 2009

As Viagens Musicais de Paulo Vanzolini



Vanzolini em retrato feito no mês de abril. Um especialista em répteis e anfíbios que escreveu sambas memoráveis


Revista BRAVO! | Julho/2009
http://bravonline.abril.uol.com.br/conteudo/musica/viagens-musicais-paulo-vanzolini-480900.shtml

As Viagens Musicais de Paulo Vanzolini
Ou: de como as excursões de um biólogo influenciaram a linguagem e a inspiração de um compositor
Por Diogo Schelp


Criador de clássicos da música brasileira como Ronda, o compositor Paulo Vanzolini sempre teve o hábito de escrever diários de viagem. Anotados a lápis ou caneta-tinteiro durante suas expedições como biólogo, à luz de lampião e enquanto abanava os mosquitos, esses manuscritos estão encadernados em uma dezena de grossos volumes de capa vermelha. Numa comparação livre, levando-se em consideração o abismo de épocas, pode-se dizer que Vanzolini é o último dos naturalistas-viajantes. O músico e cientista, hoje com 85 anos, seria assim o herdeiro da tradição de Spix e Martius, Darwin, Saint-Hilaire, Langsdorff e outros que percorreram o Brasil no século 19, anotando o que viam, colhendo e empalhando espécies animais e pintando a paisagem. Deles, mantém o espírito desbravador e generalista, em extinção em tempos de ciência cada vez mais especializada.

A maioria das páginas de seus diários, como não poderia deixar de ser, contém inventários detalhados dos bichos encontrados nas incursões mato adentro.Mas há também alguns trechos que permitem, de maneira saborosa, entrever a intersecção entre o Paulo cientista e o Paulo artista. Vanzolini é tema de um documentário que está em cartaz nos cinemas, Um Homem de Moral, dirigido por Ricardo Dias. O filme possibilita uma viagem pelo universo musical de Vanzolini, uma vez que ele se estrutura a partir da atividade do compositor. Já a viagem que os diários propõem é mais errática, complexa e surpreendente. Poderia dar origem a outro documentário.

Muitos dos sambas de Vanzolini nasceram da observação astuta e bem-humorada do cotidiano de São Paulo. Praça Clóvis, por exemplo, conta a história de um sujeito que teve a carteira batida na fila do lotação, mas fica feliz porque o furto o livrou da foto de uma mulher de quem havia tempos tentava esquecer. "Tinha vinte e cinco cruzeiros/ e o seu retrato/ Vinte e cinco eu francamente achei barato/ pra me livrarem do meu atraso de vida". Nos relatos de viagem, o mesmo interesse pelos detalhes aparentemente banais do cotidiano está presente. Em uma expedição ao interior do Maranhão, em janeiro de 1955, o cientista observa com curiosidade a estratégia usada pelos caboclos para lhe vender animais. Escreveu o zoólogo: "O pessoal daqui faz tanto negócio por procurador (vindo o procurado junto como espectador) que nem sei mais quem está vendendo. Há um moleque cujo pai vai caçar calangos mas tem vergonha de vender — manda o moleque, que conta tudo ('me paga logo que meu pai quer comprar uma melancia')". Na mesma viagem, o cientista anotou a seguinte cena presenciada no banheiro de um hotel em São Luís: "Um semianalfabeto lendo e explicando para um analfabeto completo uma crônica mundana sobre o festival de Punta del Leste — namoros de Ibrahim Sued, que não fala inglês, com uma jovem qualquer fabulosa que não fala português". Sued era colonista social de O Globo.

Vanzolini não faz questão de esconder que nada entende de música. Ele não sabe diferenciar tom maior de tom menor e, segundo Martinho da Vila, não tem ritmo algum. As suas canções são feitas na pura intuição, com fragmentos do que ele próprio chama de sua memória melódica submersa. Pela frequência e interesse com que anotou, em seus cadernos, versos sertanejos e canções de domínio popular, é natural que estes também tenham influenciado sua memória musical e, como consequência, suas composições. No Maranhão, ele registrou os seguintes versos populares: "Quando eu vim lá de casa/ que passei no caxelô/ fiz um par de alpercata/ dos queixos do teu avô/ só não fiz mais bem feito/ porque o diabo do véio acordou". Semelhante narrativa insolente e desafiadora, típica dos improvisos nordestinos, foi criada por Vanzolini em sua Capoeira do Arnaldo: "Quando eu vim da minha terra/ Vim fazendo tropelia/ No lugar onde eu passava/ estrada ficava vazia/ quem vinha vindo ficava/ quem ia indo não ia". Apesar de ser um compositor urbano, a temática regionalista e os bichos povoam canções como Toada de Luís, O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma e Cuitelinho. Esta última de domínio público e enriquecida pelo zoólogo com duas novas estrofes.

Entre os versos de autores anônimos anotados por ele, e que de outra maneira teriam se perdido para sempre, está uma moda de viola que ele ouviu em uma expedição de 1964 para capturar cobras na ilha da Vitória, no litoral norte paulista. A Moda do Concar conta a história de um navio espanhol que encalhou nas proximidades da ilha e cuja carga, principalmente óleo de oliva, foi saqueada pelos caiçaras. Hoje, alguns moradores mais velhos do Bonete, praia de pescadores em Ilhabela, ainda se lembram com dificuldade de algumas estrofes da canção. Eles reclamam que não podem mais tocá-la: os pastores das igrejas evangélicas que nos últimos anos se estabeleceram na região proí­bem as músicas tradicionais, consideradas pagãs.

Em Um Homem de Moral, Ricardo Dias recupera uma cena de um de seus filmes anteriores em que o cientista caminha na mata, com uma espingarda na mão, e discorre sobre o prazer que tem de estar naquele ambiente: "A mata é uma dessas coisas em que o todo é mais do que a soma das partes. Não é só essa luz, essas plantas, esses bichos, essas vozes, mas é esse todo que penetra a gente". A frase do herpetólogo (especialista em répteis e anfíbios) também serve para descrever as letras de seus sambas. Nelas, o todo é muito mais do que simplesmente a soma das palavras. Há sempre em cada estrofe um elemento oculto, algo que não é dito mas está lá, ajudando a formar uma cena, uma imagem, um sentimento. Em Teima Quem Quer, por exemplo, Vanzolini apresenta uma discussão entre um homem e uma mulher. Mas o contexto da briga, o motivo que levou o casal a se desentender e o tipo de relacionamento existente entre eles ficam apenas subentendidos. A elipse também está presente em Cravo Branco, que conta a história de um crime passional. A segunda estrofe do samba descreve o momento em que o sujeito vê o revólver apontado para ele e sua falta de reação. No verso seguinte, a vítima já está desabando no chão. A narrativa omite o tiro.

Em seus diários de viagem, Vanzolini demonstra a mesma habilidade para contar as histórias de maneira concisa, econômica, dando ainda mais dramaticidade aos fatos. Em uma viagem ao Xingu, em 1965, o cientista estabeleceu a base de sua expedição em uma aldeia dos camaiurás. À noite, em longas conversas à beira da fogueira, os índios contavam, com naturalidade e em detalhes, como haviam matado homens de sua própria tribo, em geral por suspeita de feitiçaria. O zoólogo resumiu assim um assassinato cometido por um índio chamado Wacucuman, a paulada e tiros de calibre .22: "Encontrou o outro na praia. 'Porque está rindo, W.?' 'Porque vai matar você.' Pau, 22 no coco, corpo n'água". Em suas anotações, Vanzolini agradecia a sorte de nenhum feitiço ruim ter sido atribuído a ele, que, médico, tinha fama de pajé na aldeia.

Entrevistei Paulo Vanzolini pela primeira vez quando eu ainda estava na faculdade, para um trabalho de conclusão de curso. A sala onde o biólogo trabalhava, no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, era escura e povoada por répteis conservados em vidros com formol e por pesados livros que envergavam as estantes. Ele me ofereceu café, e eu recusei. O herpetólogo, então, ofereceu cachaça. De cima de um armário baixo, apanhou uma garrafa de álcool de cozinha 92,8º e serviu o conteúdo em duas canecas de metal. "É para os funcionários do museu não acharem que eu bebo em serviço", explicou, sobre o hábito de guardar pinga no recipiente de plástico. O expediente já havia terminado e o zoólogo estava prestes a dar lugar ao artista. A cachaça escondida no escritório é como o Vanzolini sambista ou os versos ocultos de suas músicas — nem sempre é visível, mas está lá, parte inseparável do todo.



Diogo Schelp é jornalista de Veja.

O FILME
Um Homem de Moral, de Ricardo Dias. Em cartaz nos cinemas

3 de jun. de 2009

Imagens em trânsito - abertas as inscrições


Imagens em trânsito: conexões iberoamericanas

I Encontro Grupos de Pesquisa do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC - São Paulo (Centro de Estudos da Oralidade e Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem)
Convidamos a todos para participar do I Encontro Imagens em trânsito: conexões iberoamericanas que acontecerá no dia 15 de junho de 2009 no Memorial da América Latina. Serão apresentados trabalhos de pesquisadores e artistas latinoamericanos e europeus, cujos temas refletem a construção de imagens híbridas de cultura ibérica e latinoamericana, a partir dos mais variados suportes (cinema, festas populares, narrativas orais, entre outros).

Para obtenção de certificados é necessário insrever-se no site do Memorial da América Latina: http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/RssNoticiaDetalhe.do?noticiaId=1554

Objetivos do Encontro:

- aproximar os grupos de pesquisa Centro de Estudos da Oralidade e Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem com o grupo de pesquisa Imagens na Ibero-América coordenado pela profa. visitante Nancy Berthier;
- promover o intercâmbio entre pesquisadores do Programa de Comunicação e Semiótica e de outros departamentos de outras universidades do país e fora dele cujo tema Imagens Iberoamericanas seja relevante;
- firmar um convênio entre a PUC e a Université Paris-Est e o Memorial da América Latina.
- propiciar certificados aos participantes;
- elaborar material com os trabalhos apresentados para posterior publicação;
- difundir as pesquisas do COS (COMUNICACAO E SEMIOTICA) para um público diversificado;

Local do evento:
Memorial da América Latina - Anexo dos Congressistas
DATA: 15 de junho de 2009. (segunda feira)

Programação:

14:30 hs as 16:30 hs: Mesa 1
Coffee Break: 30 minutos
17:00 hs as 19 hs: Mesa 2


Exposição do Coletivo de Arte BijaRi durante toda a semana de 15 a 19 de junho de 2009


Mesa 1: Fricções entre cultura e mídia: a desconstrução das imagens do excêntrico
Abertura e Mediação: Professor Dr. Amálio Pinheiro

Expositor 1:

Nancy Berthier (Université de Marne-la-Vallée, France /UFR LLCE- Département d'espagnol e Université de Paris-Est, France)

« Pedro Almodóvar : au commencement était la Movida… »

Expositor 2:

Jane de Almeida (Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo e Professora convidada do Departamento de Artes Visuais na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e da PUC-SP.

“Espectros do Outro: A posição de Arthur Bispo do Rosário para além do excêntrico e do exótico”.

Expositor 3:

Gilmar Santanna (Universidade Federal do Rio Grande do Norte (campus Natal)-Depto de Ciências Sociais.

“Hibridismo cultural na metrópole - a leitura peculiar entre campo e cidade no cinema de Pedro Almodóvar”


Mesa 2: Fricções entre Oralidade e Imagem: contos, cantos e encantamento
Abertura e Mediação: Professora Dra. Jerusa Pires Ferreira

Expositor 1:

Ricardo Pieretti Câmara (Doutor pela Universidade Autônoma de Barcelona e Presidente da Fundação Nelito Câmara, Ivinhema, MS).

“Imagens Imaginárias nos causos pantaneiros”

Expositor 2:

Mauricio Beru (Produtor e Diretor de Cinema argentino)

"Piazzolla dialogando com a cidade"
Exibição do filme “Quinteto” 20 min

Expositor 3:

Márcio Honório de Godoy (Doutor pela Pontifícia Universidade Católica e pesquisador do Centro de Estudos da Oralidade, do grupo de pesquisa Comunicação e Cultura:Barroco e Mestiçagem e do grupo Processos de Criação)

“Memória Movente: Transdução e Transfiguração da Imagem Messiânica em Canudos/Belo
Monte”

16 de mar. de 2009

Luís leva Jabuti com o livro Faces do Sertão





Os amigos Ivan e Jorge decidem fazer a viagem de suas vidas. Juntos, desbravam a caatinga brasileira em busca das raízes de Jorge – sua mãe fora criada por uma amiga de sua avó, agora ele quer conhecer esse passado.
A paisagem física e humana deixa impressões diferentes em cada um deles e, depois do encontro com a família, decidem continuar viajando, mas separadamente.
As experiências que vivem são marcantes e o reencontro une dois amigos diferentes e mais amadurecidos.