21 de jun. de 2010

O macaense verdadeiro não é português nem chinês. É mestiço. Era Adé quem ensinava

Macau Sã Assi
por Emerson Santiago
emerson@opatifundio.com
http://opatifundio.com/site/?p=1859

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O macaense verdadeiro não é português nem chinês. É mestiço. Era Adé quem ensinava


Unga Casa Macaísta - Literatura de Adé é resultado de misturas entre português, cantonês e chinês, o chamado dialéto macaísta
José dos Santos Ferreira, mais conhecido pelo seu prático e “fôlegoeconomizante” apelido “Adé”, era macaense. Antes de mais nada, para os mais desavisados, “macaense” ou “macaísta” aqui é o originário de Macau. Não, não aquela cidade no estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil. A Macau a qual me refiro é cidade chinesa.

Chinesa na origem, mas colônia portuguesa durante mais de 400 anos. Mao Ze Dong (Mao-Tsé-Tung), o líder comunista, teria dito que os portugueses foram os únicos a permanecer na China durante tanto tempo sem causar estardalhaço ou serem ameaçados por guerra. Ponto para os portugueses. Infelizmente, este parece ser um dos poucos pontos a favor da presença portuguesa na China. Vou explicando junto com a descrição da trajetória do nosso Adé, poeta, escritor, jornalista e mais uma dezena de coisas ligadas à cultura daquela região do oriente.

Afinal, por que é importante gastar espaço no Patifúndio! com um escritor macaense sendo que há tantos e tantos ilustres ourives das palavras no Brasil e em Portugal? Exatamente por essa mesma razão.

Enquanto as letras portuguesas e brasileiras monopolizavam (e até hoje monopolizam) o rumo da língua portuguesa, esses pequenos e humildes abnegados espalhados por cantos longínquos como Timor, São Tomé e Príncipe, Macau ou Goa, esperneavam-se para serem ouvidos, muitas vezes sem perspectiva de sucesso. Talvez o leitor acredite ao ler o trabalho de Adé internet afora (eu tenho dois livros dele, aliás, dificílimos de se encontrar), que realmente não se trate de um Fernando Pessoa do oriente. Realmente creio que não é o caso.

Ele se encaixa mais no que o brasileiro gosta de classificar como “regionalista”, apegado aos usos e costumes de seu meio, sendo uma porta aberta para um mundo o qual poucos conhecem. Eu o considero mais próximo a Cornélio Pires de São Paulo ou Leonardo Motta, do Ceará, dois escritores preocupados em retratar mundos esquecidos (no primeiro caso, o do caipira do interior de São Paulo e no outro, o sertanejo nordestino). O mundo de Adé é do mesmo modo esquecido ou ignorado. É o mundo do mestiço chinês-português. Um mundo riquíssimo, impossível de tratar em um simples artigo.

É aí que mora o grande pecado, ou se desejarem, mazela de Portugal no oriente. Ao invés de procurarem aprender, assimilar ou no mínimo entender esse riquíssimo caldo cultural que ia surgindo em Macau, fruto de duas culturas diametralmente opostas (o extremo oriente – China – e o extremo ocidente – Portugal – juntos numa única e peculiar oportunidade de contato e conhecimento), Portugal resolveu impor a sua cultura, tal como se estivéssemos falando de Trás-os-Montes ou Açores. Imaginem o quanto Portugal perdeu, a não se atrever a penetrar num mundo tão ou mais adiantado que o seu!

Resultado: Hoje, menos de cinco por cento dos cidadãos de Macau falam português; o dialeto macaísta, uma mistura exótica de português, cantonês e chinês que foi quase que erradicado pela obsessão em se fazer com que os locais falassem português castiço (hoje, tal língua é candidata à lista da Unesco de idiomas em perigo extremo de extinção, e pasmem, é mais falada em Hong Kong, que fica ao lado, do que em Macau).

Adé procura timidamente fazer essa ponte em seus trabalhos, todos escritos no tal português macaísta (a sua deliciosa versão, em dialeto, de “Uma Casa Portuguesa” deu a primorosa “Unga Casa Macaísta”).

Vale lembrar que a grande e esplendorosa Hong Kong, ali do lado, não possui nada disso. Nenhum dialeto ou crioulo inglês-chinês, nenhuma literatura mestiça ou local no nível que descrevo aqui, nem música, nem nada parecido.

Adé é o escritor e poeta do português de Macau. Ele o representa. Qualquer um que decide conhecer essa variante linguística do português passa pelas obras de Adé. Assim como Cornélio Pires e Leonardo Motta, ele deixou peças de teatro, poesia, canções e prosa. Os abnegados que ainda hoje procuram manter vivo o dialeto macaísta, caso do macaense Henrique Senna Fernandes possuem uma enorme dívida de gratidão para com ele. Sem ele, esse português quebrado de Macau seria mais uma simples e apagada curiosidade, sem textos, documentos, enfim, nada para se conhecê-lo bem.

Leiam Adé. Ele é necessário não por ser Fernando Pessoa ou Machado de Assis, mas para mostrar quantos mundos inexplorados, intocados e distintos a língua portuguesa apresenta. Com ele se aprende o português do oriente. Com ele se aprende a ser chinês em uma casa portuguesa, ou então, um mandarim de Coimbra. E ainda assim, com tudo isso dito, ele é um escritor legitimamente chinês

17 de jun. de 2010

3 de mai. de 2010

LÁ ELE!!!

A importância fundamental do, "LÁ ELE".

Informação cultural importante.

O "lá ele" é uma das mais importantes expressões do idioma baianês, mais especificamente do dialeto soteropolitano baixo-vulgar. Segundo os léxicos, a expressão significa "outra pessoa, não eu" (LARIÚ, Nivaldo. Dicionário de baianês. 3ª ed. rev. e ampl. Salvador: EGBA, 2007, s/n).

A origem da expressão é ambígua. Alguns etimologistas atribuem seu surgimento às nativas do bairro da Mata Escura, enquanto outros identificam registros mais antigos no falar dos moradores do Pau Miúdo. O certo, porém é que o "lá ele" desempenha papel fundamental em um dos aspectos mais importantes da cultura da primeira capital do Brasil - a subcultura urbana do duplo sentido.

Desde a mais tenra infância, os naturais da Soterópolis são treinados para identificar frases passíveis de dupla interpretação. Da mesma forma, os soteropolitanos aprendem desde cedo a engendrar artimanhas para que seu interlocutor profira expressões de duplo sentido.

Assim, as pessoas vivem sob constante tensão vocabular, cuidando para não fazer afirmações que possam ser deturpadas pelo interlocutor. Para indivíduos do sexo masculino, por exemplo, é vedado conjugar na primeira pessoa inocentes verbos como "dar", "sentar","receber", "cair", "chupar" etc. O interlocutor sempre estará atento para,ao primeiro deslize, destruir a reputação de quem pronunciou a palavra proibida.

Como antídoto para a incômoda prática, o "lá ele" surgiu como uma ferramenta indispensável na comunicação do soteropolitano. Assim, o indivíduo que falar algo sujeito a interpretações maliciosas estará a salvo se, imediatamente, antes da reação de seu interlocutor, falar em alto e bom som "lá ele!"

Por exemplo, qualquer homem, por mais macho que seja, terá sua orientação posta em dúvida se falar "Neste Natal comi um ótimo peru". Contudo, se sua frase for "Neste Natal comi um ótimo peru, lá ele!", não haverá qualquer problema. No mesmo diapasão, confira-se:
(i) se um colega de trabalho enviar um e-mail perguntando "vai dar para almoçar hoje?", não se pode redarguir apenas "Sim"; deve-se responder "Vai dar lá ele. Vamos almoçar";
(ii) se, na pendência do pagamento de polpudos honorários, um advogado perguntar ao outro "Já recebeu?", a resposta deverá ser "Recebeu lá ele. Já foi pago";
(iii) ou, ainda, se alguém tiver a desdita a desdita de nascer no citado bairro do Pau Miúdo, o que poderá transformar sua vida em um interminável festival de chacotas, deverá sempre valer-se da ressalva: "eu sou do Pau Miúdo, lá ele".

Para melhor compreensão da matéria, reproduz-se abaixo um exemplo real, ocorrido no último domingo durante a transmissão de futebol:
- Locutor: "Subiu o cartão amarelo?"
- Repórter: "Subiu o amarelo e o vermelho."
- Locutor: "Mas você está vendo subir tudo!"
- Repórter: "Lá ele!"

Note-se que o "lá ele" pode sofrer variações de gênero e número, de acordo com a palavra que se pretende neutralizar. Se, antes de uma sessão do TJBA, alguém perguntar "Você conhece os membros da turma julgadora?", deve-se objetar com veemência: "Lá eles!". Ou se o cidadão for à Sorveteria da Ribeira e lhe perguntarem "Quantas bolas o senhor deseja?", é de todo recomendável que se responda "Duas, lá elas, por favor".

A cultura duplo sentido oferece outros fenômenos da comunicação interpessoal. Veja-se, a título de ilustração, o sufixo "ives".
Em Salvador, não se pode falar palavras terminadas em "u", principalmente as oxítonas. Independentemente de sexo, idade ou classe social, o indivíduo poderá ser mandado para aquele lugar (lá ele). A pronúncia de uma palavra que dê (lá ela) rima com o nome popular do esfíncter (lá ele) será prontamente rebatida com a amável sugestão.
Para fazer face ao problema, a vogal "u" passou a ser costumeiramente substituída pelo sufixo "ives".

Destarte, o capitão da Seleção de 2002 é tratado como "Cafives"; o Estádio de Pituaçu virou "Pituacives"; o bairro do Curuzu se tornou "Curuzives"; a capital de Sergipe sói ser chamada de"Aracajives"; e as pessoas que atendiam pela alcunha de Babu, com frequência utilizada na Bahia para apelidar carinhosamente pessoas de feições simiescas, há muito tempo passaram a ser chamadas de "Babives".

Este incrível informe cultural foi fornecido por Jurema Paes.

11 de jan. de 2010

Histórias dos Bairros de São Paulo

Histórias dos Bairros de São Paulo II




A TV Cultura exibe a série História dos Bairros de São Paulo II. A produção conta com 20 documentários recheados de depoimentos de personalidades que transitam nas respectivas localidades, além de historiadores. Dentre as obras estão Bixiga: A bela vista do palco brasileiro; Santana em Santana; Pompeia e Vila Romana: A geografia que une caminhos diferentes; Caixa Mágica, sobre as imediações da Rua 25 de Março; Cinzas eternas: História de paixão pelo bairro da Lapa; Doces lembranças: Histórias saborosas do Pari; Cititur pelo velho e novo Santo Amaro; Tatuapé, caminho do tatu; M’Boi Mirim: Dos índios, das águas, dos sonhos; Sete voltas: História do Parque Dom Pedro II e Mercado; Parelheiros: No extremo sul da Cidade; Santa Efigênia e seus pecados; Vila Mariana: De colônia à República da Vila; Vale do Anhangabaú: Sala de visitas de São Paulo; Os tempos da Aclimação; Ermelino é Luz; Guaianazes, Expresso Ururaí, Lajeado; A casa dos Ingleses; Jaraguá: Terra sem mal; além de Itaquera em movimentos.

10 de janeiro

Pompeia e Vila Romana – A geografia que une caminhos diferentes
Uma viagem pelo tempo para contar a história de Vila Romana e Pompeia, dois bairros da zona oeste de São Paulo marcados pela imigração de italianos no início do século 20. A Pompeia, bairro em acelerado desenvolvimento, grandes prédios, avenidas, comércio, serviços, em contraste com a bucólica Vila Romana com suas vilas, casas, varandas e quintais. O filme parte de uma Pompeia conhecida como berço do rock no Brasil e que originou grupos como Mutantes, Tutti Frutti, Made in Brazil e elevou o bairro ao status de uma “Liverpool Brasileira”. Por outro lado, Vila Romana é retratada pelo romantismo de suas origens, seu trabalho, crescimento e o começo de uma verticalização que preocupa moradores e põe em risco a memória de um bairro cujo charme é seu jeito de interior.

17 de janeiro
Cinzas Eternas – Uma declaração de amor à Lapa
Acompanhamos aqui a história de Osmar Bueno de Carvalho, um dos criadores da bandeira da Lapa e participante ativo da vida social e política da comunidade desde 1927. Já falecido, deixou por escrito seu desejo de que suas cinzas fossem espalhadas por algumas das ruas em que viveu por toda a vida. Essa e outras histórias de paixão pelo bairro são retratadas em Cinzas Eternas.

24 de janeiro
Doces Lembranças – Histórias saborosas do Pari
O cheiro das antigas fábricas de doces que funcionaram durante décadas no bairro impregnou a memória de diversas gerações de famílias aqui residentes. É justamente pelo olfato que o documentário Doces lembranças resgata as histórias do Pari. Com mais de 400 anos de existência, tornou-se uma pequena babilônia: árabes, portugueses, libaneses, bolivianos, armênios, sírios e italianos misturam nesse documentário.

31 de janeiro
Caixa Mágica
Um documentário sobre a influência da imigração árabe na região do centro de São Paulo, precisamente nas imediações da Rua 25 de março, conhecida por seu intenso comércio. Misturando linguagem documental à ficção, conta com a participação de atores, historiadores e representantes da comunidade árabe que viveu e ajudou a construir a trajetória do bairro.